[viagem no tempo do agora]

Existem lembranças que tocam fundo, quase como se penetrassem na alma.
Acolhem, inspiram, te fazem abrir um sorriso involuntário com o canto da boca e fazem o olhar ganhar um brilho diferente.

E essas mesmas memórias que nos tocam podem ficar lá atrás, no lugar onde pertencem, ou podem vir à tona como uma injeção de adrenalina, te transportando para décadas atrás, como um mergulho para dentro de si.

Você foi essa viagem.
Uma volta ao tempo, a um momento, a tantas descobertas.


De todas as possibilidades o mundo, a nossa aconteceu da forma mais improvável, imprevista, inusitada, impensada. Só de escutar seu nome, era como entrar nessa cápsula no tempo e pousar em uma ilha paradisíaca, num oásis em meio aos caos, vestindo blusa bege e saia preta.
Parecia uma viagem àquele tempo que parou naquele instante – e que reverberou por tantos outros.

Lá estava você, aqui estava eu.
Sua imagem era a mesma. Saiu o boné, entraram alguns fios brancos.
E já eu não faço ideia de como você me percebeu. Talvez como aquela menina que inventava história para puxar assunto?! Talvez.


Só sei que nossos sorrisos se faziam ver à distância, que o abraço foi tão sincero e intenso quanto o do primeiro adeus que demos.
Uma mistura de realidade com nostalgia com platonismo.

Não fazia muito sentido, mas nunca foi tão certo.
Era como se as barreiras de antes, que pareciam impossíveis de serem cruzadas, fossem frutos da nossa imaginação.
Afinal, o que poderia ser ônibus de distância se podemos cruzar oceanos?

E aqui estávamos nós, nos reconhecendo da forma mais genuína do mundo.
Pinceladas de passado que desenham as linhas do presente.
As suas cores, as suas formas, deixaram marcas aqui dentro e, hoje, criam histórias pelos muros do mundo.

Nesse encontro, eu pude perceber que, de certa forma, você também parou naquele tempo, que as suas lembranças eram as minhas, que as suas memórias também reverberaram por todos esses anos.

Éramos os mesmos, mas diferentes. Éramos o pedaço da nossa história que nunca existiu. Éramos trechos de música que nunca escutamos, de arte que nunca fizemos. Éramos o que poderia ter sido e o que não seremos.

Mas, para que querer ser mais do que uma lembrança – dessas que tocam fundo, como se penetrassem na alma?
Não há nada mais sincero e lindo do que isso.

Você sempre será a minha viagem.

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